Pedro Menéres: Covid-19 e o impacto na oftalmologia

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O médico oftalmologista Pedro Menéres partilha com a OftalPro quais são os impactos da pandemia Covid-19 no ramo da oftalmologia.

“Os impactos desta doença são enormes ao nível de oftalmologia, da medicina, e abrangem toda a população. Nos hospitais (e na generalidade das clínicas privadas) estivemos sempre com atendimento dos casos urgentes e mais prioritários, contudo muitos doentes com o medo gerado evitaram recorrer ao médico, mesmo em situações mais críticas. No Serviço, constatámos a necessidade de reorganizar totalmente a estrutura e o acesso e rapidamente constituímos um gabinete de crise (com o diretor de serviço os gestores clínicos da consulta externa, urgência e internamento, Drs. Vasco Miranda, Maria João Menéres e Angelina Meireles; o interlocutor na Comissão de Controlo de Infeção, Dr. Miguel Gomes; e o Prof. Melo Beirão (para ajudar nas mudanças no ensino pré-graduado). Criámos comissões de crise para a consulta externa, o SU, as cirurgias prioritárias e injeções intravítreas e elaborámos orientações, um plano de contingência com plano de evicção e normas internas de atuação. Fizemo-lo em pouco tempo com a dedicação e envolvimento da maioria dos clínicos do Serviço a contribuírem muito positivamente com sugestões que analisávamos e integrávamos. Deste modo, rapidamente colocámos em campo as medidas que correspondiam ao assegurar das duas prioridades fundamentais que definimos desde cedo: proteger profissionais e doentes e assegurar cuidados prioritários a curto e médio prazo. Não se afigurou uma tarefa fácil. Apesar de sabermos o que era adequado, não tivemos os equipamentos de proteção individual que pretendíamos logo nos primeiros dias. Não tínhamos as lâmpadas de fenda protegidas com escudos, não tínhamos máscaras cirúrgicas para as necessidades ou máscaras de proteção mais elevada em quantidade adequada. Irónica, e simultaneamente, era precisamente no Porto que se diagnosticavam os dois primeiros casos em Portugal, em 2 de março de 2020: no CHUP um médico de outra unidade hospitalar que tinha regressado recentemente do norte de Itália era internado com infeção pelo SARS-COV-2. Teríamos de sair da nossa zona de conforto”.

Acrescenta que “na Oftalmologia do CHUP tivemos desde logo de ceder o nosso bloco de internamento para poder ser criada uma nova Unidade de Cuidados Intensivos, a qual foi extremamente necessária no pico das maiores demandas hospitalares que ocorreu no final de março e início de abril. Fomos obrigados a mudar todas as cirurgias, inclusive de doentes de Trás-os-Montes ou dos Açores para as salas de ambulatório. Felizmente, foi possível concentrar a atividade no nosso centro cirúrgico ambulatório habitual, onde dispomos de duas salas de grande cirurgia e duas de pequena cirurgia. Este centro manteve-se dedicado a doentes Covid-19 negativos, enquanto no núcleo principal do CHUP foi criado um bloco para doentes Covid-19. Reformulámos igualmente toda a atividade de consulta, com a criação de novos modelos de trabalho. Foram estabelecidas políticas de segurança e prioridades que nos permitiram assegurar os cuidados mais importantes de forma presencial e, simultaneamente, criar condições de afastamento físico, com equipas espelho, teletrabalho, circuitos unidirecionais, redução de acompanhantes e muitas outras medidas como material exclusivo para a observação de doentes internados infetados ou suspeitos in loco, incluindo uma lâmpada de fenda portátil. Logo nos primeiros dias do estado de emergência, foi implementada uma triagem à entrada do Serviço, com inquérito epidemiológico, medição de temperatura sem contacto e limitação de acompanhantes, ao estritamente necessário. Na segunda semana de março anulámos as habituais agendas sobrecarregadas, (eliminando desde logo as marcações além vagas) e já não tínhamos reuniões de Serviço, enquanto propúnhamos superiormente cancelar as atividades eletivas. A 13 de março adiámos todos os doentes não prioritários”.

Saiba mais em breve.

8 Junho 2020
AtualidadeOftalmologia

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