Estudo revela que má visão está fortemente associada ao risco de acidentes rodoviários

Uma investigação liderada pela Queen’s University Belfast e publicada pelo The Lancet Global Health indica que é necessária uma ação urgente para reduzir o número de acidentes de viação que podem ser atribuídos a uma visão deficiente. Estas conclusões foram o resultado da primeira revisão abrangente para destacar a ligação entre visão deficiente e segurança rodoviária em países de baixo e médio rendimento.
“Como principal causa global de morte entre as pessoas com idades compreendidas entre os 5 e os 29 anos, os ferimentos causados pelo trânsito rodoviário são uma grande preocupação de saúde pública. Sem uma ação sustentada, estão à beira de se tornarem uma das principais causas globais de morte para todas as idades até 2030. Embora apenas 60% dos carros do mundo sejam conduzidos nas estradas dos países de baixo e médio rendimento, 90% das mortes em acidentes de viação ocorrem nesses países”, pode ler-se na introdução do estudo.
A investigação, foi apoiada pela Clear and the Ulverscroft Foundation.
A revisão produziu uma série de conclusões-chave:
- muitos condutores em países de baixo e médio rendimento têm visão deficiente;
- existe uma grande lacuna política, uma vez que a maioria destes condutores nunca fez testes de visão;
- existe uma correlação clara entre visão deficiente e o risco de colisões.
Nathan Congdon, professor no Centro de Saúde Pública da Queen’s University Belfast e Ulverscroft Chair of Global Eye Health, um dos autores do estudo, explica: “Pode parecer óbvio que a má visão está ligada causalmente a estradas inseguras, mas de facto as revisões prévias, e a maior parte da investigação na área, têm-se concentrado nos países ricos, onde de facto fazemos um trabalho bastante bom para manter os condutores com má visão fora das estradas. Mas uma vez que nos concentrámos apenas em países de rendimento baixo e médio, surgiu um quadro muito diferente. Há muitos condutores com má visão nas estradas nestes cenários, e parece evidente que eles explicam uma parte importante do elevado número de acidentes de viação que aí ocorrem”.
Uma boa visão conduz a estradas mais seguras, particularmente em países de baixo e médio rendimento. Apesar da elevada carga de acidentes de viação e da mortalidade associada nestes cenários, tem havido uma falta de evidências de uma associação entre a função de visão e os resultados da segurança rodoviária nestes países, aponta o estudo.
“A nossa revisão mostra que é necessário fazer mais para abordar urgentemente a ligação entre a má visão e a segurança rodoviária e para reduzir a elevada taxa de mortalidade rodoviária nos países de baixo e médio rendimento, especialmente entre os jovens. Esperamos que estas novas descobertas sejam utilizadas para informar os principais ensaios sobre visão e segurança rodoviária nestes países e, por sua vez, para orientar estratégias para abordar as deficiências visuais entre os condutores, a grande maioria das quais são facilmente tratáveis. É necessária uma aplicação mais rigorosa dos regulamentos existentes, combinada com o acesso in loco aos serviços de visão para os que falham nos testes”, acrescenta Nathan Congdon.
James Chen, fundador da Clearly e Presidente da Fundação Chen Yet Sen Family comenta: “Esta investigação deveria ser um importante sinal de aviso para os governos sobre a necessidade de agir em relação à resolução da ONU ‘Visão para Todos’ que foi aprovada por unanimidade no mês passado. Há fortes evidências de que uma boa visão torna as estradas mais seguras e os governos precisam de considerar seriamente a possibilidade de tornar os testes oftalmológicos obrigatórios na emissão de cartas de condução”.
Aceda ao estudo aqui.
26 Agosto 2021
AtualidadeOftalmologia