“Este é um momento assinalável da oftalmologia portuguesa”

Pedro Menéres, diretor do Serviço de Oftalmologia do CHUdSA, referiu que o lançamento do primeiro Banco de Córneas de Cultura em Portugal “é um momento assinalável para a oftalmologia portuguesa e é o culminar de um trajeto bonito, mas desafiante, com muitos obstáculos vencidos e sucessos alcançados”.
O CHUdSA lançou o primeiro Banco de Córneas de Cultura em Portugal. Que importância tem este banco para a oftalmologia portuguesa?
O lançamento do primeiro Banco de Córneas de Cultura é um momento assinalável para a oftalmologia portuguesa e é o culminar de um trajeto bonito, mas desafiante, com muitos obstáculos vencidos e sucessos alcançados. O primeiro transplante de córnea no Hospital Geral de Santo António (HGSA) realizou-se no ano de 1958 pelo Dr. Manuel de Lemos, numa época em que muito poucos centros realizavam transplantes de córnea em todo o mundo (e nenhum em Portugal). Desde essa data, a atividade de transplantação de córnea manteve-se constante no Santo António, embora muito limitada nas primeiras duas décadas, devido à inexistência de condições para a conservação das córneas dadoras (tinham de ser utilizadas nas primeiras horas após a colheita) e ausência total de regulamentação/legislação nesta área. Entre 1958 e 1980, foram realizados 198 transplantes de córnea, o que representava uma média de nove transplantes por ano. Em 1980 foi criado o Banco de Olhos do HGSA (córneas refrigeradas), metodologia que permite a conservação das córneas dadoras por alguns dias, possibilitando assim que a atividade de transplantação de córnea tivesse, a partir deste ano, um caráter mais regular. O aumento do número de transplantes de córnea tem, no entanto, estado limitado pela disponibilidade de tecidos disponíveis para transplantação e este avanço vai permitir a ampliação da transplantação de córneas.
Na prática, a criação deste Banco de Córneas vai permitir o quê?
Na conservação a frio (córneas refrigeradas) a preservação das córneas é efetuada em meio de Kauffmann modificado, a uma temperatura de 4-8ºC, permitindo a utilização das córneas até um máximo de 14 dias. No entanto, esta metodologia induz perda progressiva da qualidade das células endoteliais (muito acentuada a partir do 11º dia). Este método de conservação tem outras limitações, nomeadamente ao nível dos critérios de seleção de dadores: exclui dadores acima dos 80 anos de idade e também aqueles cuja causa de morte tenha sido sépsis. Na conservação em meio de cultura (córneas de cultura), a preservação das córneas é efetuada em meio de cultura (com 2% de soro fetal bovino, sendo utilizado em alguns laboratórios até 8%) a uma temperatura de 28-37ºC. Esta metodologia permite a utilização das córneas até 34 dias após a colheita, sem perda de qualidade endotelial. Permite ainda aumentar significativamente o número de dadores elegíveis, uma vez que idade e morte por sépsis não são critérios de exclusão para a colheita.
Leia a entrevista completa na OftalPro 63.
9 Janeiro 2024
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