Implante ocular devolve capacidade de leitura a pessoas cegas
Um dispositivo ocular inovador desenvolvido por investigadores da Universidade de Pittsburgh e da Universidade de Stanford, em colaboração com vários centros europeus, permitiu a pessoas com cegueira central causada por Degenerescência Macular Relacionada com a Idade (DMRI) atrófica recuperar a capacidade de ler — um feito inédito na medicina oftalmológica.
Um chip que transforma luz em visão
O implante, denominado PRIMA, é um microchip fotovoltaico com apenas 2 milímetros de largura colocado sob a retina. Este dispositivo converte a luz em impulsos elétricos que estimulam as células retinianas ainda funcionais.
Os pacientes usam ainda uns óculos especiais com câmara integrada, que captam as imagens e projetam-nas em infravermelhos diretamente sobre o chip, substituindo o papel dos fotorreceptores danificados.
Segundo o estudo clínico internacional publicado esta semana na revista New England Journal of Medicine, 38 pessoas com DMRI atrófica, com idades acima dos 60 anos, participaram nos ensaios realizados em 17 centros de cinco países europeus. Após um ano de acompanhamento, 27 pacientes conseguiram ler letras em tabelas oftalmológicas e 26 registaram melhorias clinicamente significativas na acuidade visual.
Em média, os participantes conseguiram ler cinco linhas adicionais, o equivalente a 25 letras a mais do que antes do implante. Em alguns casos, a melhoria chegou a 59 letras (cerca de dez linhas).
“É a primeira vez que uma tentativa de restauração da visão produz resultados tão expressivos num grupo tão alargado de doentes”, afirmou em comunicado José-Alain Sahel, autor sénior do estudo e chefe do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh.
Para o professor Mahi Muqit, da University College London e do Moorfields Eye Hospital, “esta tecnologia marca uma nova era na visão artificial. É a prova de que é possível restaurar parte da visão central em pessoas que antes não tinham qualquer alternativa terapêutica”.
Limitações e próximos passos
Apesar dos resultados promissores, o sistema ainda apresenta limitações. A visão restaurada é a preto e branco, e a resolução é ainda reduzida — comparável a uma imagem de baixa definição. Os investigadores estão já a trabalhar em versões com maior densidade de pixels e contraste, de modo a melhorar a nitidez e a perceção de profundidade.
A empresa Science Corporation, responsável pelo desenvolvimento do PRIMA, submeteu pedidos de aprovação clínica junto das autoridades regulatórias da União Europeia e dos Estados Unidos, esperando poder disponibilizar o dispositivo nos próximos anos.
Colaboraram no estudo investigadores da Universidade de Bona, dos Hospitais da Fundação Adolphe de Rothschild e de Olhos 15-20, em Paris, de Moorfields, em Londres, e da Universidade de Roma Tor Vergata, entre outros.
Imagem de Daniel Roberts por Pixabay
24 Outubro 2025
Estudos e Investigação