“O investimento que fazemos na nossa formação é grande”
Rita Gama é coordenadora da equipa da oftalmologia pediátrica do Hospital da Luz Lisboa e foi premiada com o Best Free Paper Award, do congresso da World Society of Pediatric Ophthalmology and Strabismus (WSPOS), que decorreu nos dias 25 e 26 de setembro em formato virtual. Com um percurso vasto na oftalmologia, Rita Gama dedica-se às áreas de Estrabismo, Oftalmologia Pediátrica e Tomografia de Coerência Ótica. A OftalPro foi ao encontro da médica que abordou vários temas, nomeadamente as maiores preocupações em relação à oftalmologia em Portugal.
Foi distinguida recentemente no Congresso WSPOS. Em que consistiu essa distinção?
A World Society of Pediatric Ophthalmology and Strabismus distinguiu o nosso trabalho como a melhor apresentação oral do congresso virtual, que se realizou nos dias 25 e 26 de setembro de 2021. Este trabalho iniciou-se há oito anos e contou com a colaboração de crianças que recorreram à nossa consulta. Com a tomografia de coerência ótica (OCT) demonstrámos que as estruturas microscópicas do olho (retina e nervo ótico) são diferentes na criança e no adulto. Antes da OCT estes conhecimentos só eram possíveis com estudos histológicos (com tecidos mortos). Com este exame analisamos estruturas vivas e podemos prever como é que o crescimento altera estas estruturas.
Que importância tem o reconhecimento e os prémios que vai recebendo ao longo da carreira?
Os trabalhos que procuramos levar para os congressos exigem muito tempo e uma grande dedicação para conseguir atingir a qualidade que estas sociedades exigem. Conciliar a atividade clínica com a investigação é difícil. Por isso, prémios como este são um estímulo para fazer mais e melhor.
” (…) a relação que se estabelece com cada doente é única e irrepetível”
Rita Gama
Como descreve a oftalmologia que se pratica em Portugal em relação ao estrangeiro?
É igual. Temos os mesmos equipamentos, o mesmo rigor e as mesmas preocupações éticas. Por vezes ainda sentimos alguma inibição em mostrarmo-nos, mas esse sentimento está menos presente nos colegas mais jovens e tem vindo a dissipar-se.
Quais são as suas maiores preocupações em relação à oftalmologia em Portugal?
A maior preocupação é a pressão exercida pelas administrações hospitalares. A medicina tem sido tratada numa atividade rentável pelas atuais administrações. De facto, é rentável, mas avaliar as atividades médicas, auxiliares e administrativas por esse prisma é muito redutor. O investimento que fazemos na nossa formação é grande e a relação que se estabelece com cada doente é única e irrepetível. Penso que a avaliação deveria incluir características técnicas e o grau de satisfação das pessoas que nos procuram.
Entrevista completa na OftalPro 54.
17 Janeiro 2022
Entrevistas