“A visão é um processo de aprendizagem”

Luís Manuel Costa Dias Pereira tem uma longa carreira (e vida) ligada à oftalmologia. “A decisão de me dedicar quase de forma exclusiva à estrabologia prendeu-se com a sensação de desafio que senti, ainda na fase de formação, por constatar que era uma área em que poderia atuar profilaticamente, ainda na prevenção primária, o que considero ser um dos aspetos mais importantes da medicina”.
OftalPro: Quais as alterações psicológicas que podem estar presentes no estrabismo? E como preveni-las?
Luís Pereira: Do ponto de vista estético, o estrabismo é mal aceite pela maior parte das sociedades. Ter um aspeto diferente dos outros leva muitas vezes à troça e hostilização. O mesmo acontece no relacionamento interpessoal. Tem um impacte negativo na autoestima. O desenvolvimento da personalidade das crianças pode ser afetado por este problema. Também a relação pais-filhos pode ser afetada por problemas psicológicos aumentando a ansiedade dos pais. Daí que estas alterações, como já sugeri anteriormente, podem ser minimizadas pela participação em decisões que dizem respeito ao tratamento médico-cirúrgico do problema que afeta os filhos. Como é do conhecimento geral, a prevenção, como tudo, deve começar antes do nascimento. Por isso, a gravidez deve ser planeada e os cuidados gerais de saúde devem iniciar-se antes de engravidar. A mulher grávida deve antes de mais ter os cuidados gerais compatíveis com uma vida saudável. Estes incluem uma dieta cuidada, um bom equilíbrio entre o exercício físico adequado e o repouso e abstinência de fumo, álcool e outras drogas. Devemos ter presente que a visão é um processo de aprendizagem. Na espécie humana a visão não se encontra completamente desenvolvida ao nascer. A acuidade visual é nessa altura muito baixa (equivalente a 1/10), mas aumenta rapidamente nas primeiras semanas de vida. Os primeiros três meses de vida são particularmente importantes para o estabelecimento da fixação e desenvolvimento da acuidade visual na criança. A capacidade de perseguição de um estímulo visual é igualmente importante, relacionando-se com a fixação, a acuidade visual, a motilidade ocular e o desenvolvimento do campo visual. Aos quatro anos, é de esperar uma acuidade visual de cerca de 7/10 e de 10/10 aos cinco anos. Qualquer anomalia que interfira com este processo de aprendizagem, com este adquirir de competências, terá necessariamente consequências a longo prazo. O exame oftalmológico da criança não está confinado à avaliação da função visual… Como existem dois olhos, nunca esquecer que um pode ver mal sem ser notado e o estrabismo é um dos responsáveis por esta situação grave.
Entrevista completa na OftalPro 39.
11 Dezembro 2017
Entrevistas