“Os cuidados de saúde visuais no nosso país estão muito aquém das necessidades”
Quem o diz é António Fernandes, responsável pelo Serviço de Oftalmologia do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães. O oftalmologista refere que quem trabalha “em zonas mais periféricas dos grandes centros urbanos, constata essa realidade”., acrescentando que “os cuidados não chegam a toda a gente com a rapidez exigida”.
Em Portugal, o que falta fazer ao nível dos cuidados de saúde visuais?
Os cuidados de saúde visuais no nosso país estão muito aquém das necessidades. Nós, que trabalhamos em zonas mais periféricas dos grandes centros urbanos, constatamos essa realidade. Nós ainda fazemos cataratas onde pensamos que já não são deste século, com pacientes que nos chegam praticamente invisuais, com cataratas muito densas, bilaterais e que ficam completamente dependentes por causa de uma cirurgia muito simples. Isso diz-nos que os cuidados não chegam a toda a gente com a rapidez exigida. O nosso hospital temos colaborado ao nível do país, e tem dado resposta a SIGIC que nos pedem, inclusive de Faro e da região abaixo de Lisboa, designadamente de Odemira, Sesimbra, Tavira.
O que mudava nos seus 30 anos de prática clínica oftalmológica?
Eu diria que neste período em que exerci a minha atividade clínica, é que o SNS tem vindo a decair e, como ainda agora abordamos, a única forma de inverter a situação passa por melhores condições de trabalho, inclusive horários flexíveis para todos os profissionais. Além disso, os diretores de serviço deveriam ser mais autónomos, nomeadamente terem uma capacidade financeira própria para dirigirem mais eficazmente os serviços, acompanhado de estímulos, prémios, para os profissionais que produzirem mais e melhor. Isto terá de ser obrigatoriamente futuro. O serviço de oftalmologia, e a outros, tem de passar por uma base e, partir daí, deve ser estimulado com prémios de produção, acompanhando a qualidade. Se não formos por esse campo, isto vai definhar, vai chegar o momento em que tens um médico com cinco anos de experiência, em que já está bem, e chega um privado que lhe paga o dobro e vai-se embora. Deve existir este estímulo para o médico. Isto deve andar de mão dada.
Leia a entrevista completa na OftalPro 61.
14 Agosto 2023
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